New Kids: a arte pode ser sonhada e tornar-se real

Sonhar e fazer arte por vocação, talento e profissão é a essência do que revelou o projecto musical New Kids, criando no âmbito do Maputo Fast Forward que aconteceu pelo segundo ano consecutivo.

Em três sessões, entre os dias 05 e 07 de Outubro, no histórico Teatro Avenida, em Maputo, os cinco artistas em palco procuraram representar toda uma visão e sentimento do fazer artístico a partir das famílias, da sociedade e da sua entrega pessoal. A arte a partir do sonho, passando pela ideia de hobby até tornar-se um caminho incontornável na vida.

Foram cerca de 50 minutos de espectáculo onde o drama é transversal à música, às palavras carregadas de mensagens que quebram a inclinação para o abstrato. Desde logo a versatilidade, as multifaces dos artistas emergentes, muitos deles dotados de talento para manejar softwares de produção musical, captação de voz, a utilização de efeitos sonoros, a transgressão dos padrões ao olharem os diferentes géneros artísticos, foram os pontos de partida para moldarem às coisas à sua maneira e à maneira raramente vista em Maputo.

Toda a diversidade conectada por via de um trabalho de encenação fez com que o público experimentasse uma sensação diferente de espectáculo. Tal experiência musical que se assume a iniciativa, implementada pelo 16Neto, este ano financiada pela Sound Connects Fund e a Cooperação Suiça. 

Não querendo ser puramente música, mas também sem ser teatral, nem lírico nem erudito, New Kids transmitiu o estilo de vida da nova geração de músicos moçambicanos que vai da abstração, a arte pela arte à satirização dos dilemas sociais. Mas, sobretudo, mostrou-se pelo elenco que a ideia era deixar falar o talento na forma como ele manda no momento.

New Kids revelou a uma audiência maior que provavelmente não andará na rotina da programação da 16 Neto, onde esses artistas já tiveram uma experiência de apresentação, os talentos que sós, apenas entendidos e auxiliados pelas novas tecnologias, fazem a sua música e a performance das suas vidas, às vezes incompreendidos ou simplesmente sem acesso aos canais tradicionais de exposição. 

E os protagonistas e os seus papéis. Desde logo, a forma como abriu o espectáculo, com Hyuta Cezar, jovem artista do estilo Hip Hop, a sentar-se nas extremidades do palco, numa mesa com instrumentos de trabalho, uma mesa de som, um computador, tal como um maestro, conduzia o espectáculo fechado no seu mundo de aparelhos que certamente vários jovens talentos possuem dentro do quarto. 

Ita das Dores, até aí ilustre desconhecida, protagonizou os primeiros momentos, com Samuel Menezes Jr, que centralizou a parte dramática, sendo a personagem principal numa história de vício por drogas e fatalidades familiares em que a música e a arte apresentam-se como um bálsamo. 

PIZZAWPINEAPPLES (pseudônimo de Bruno Saranga), que protagonizou uma apresentação que se destacou no colectivo. Cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor, engenheiro de som, fotógrafo e artista visual moçambicano.  

A baixista Márcia Luisa F. Pascoal, com alguma experiência de palco, com passagens pela banda “As Marias” projecto ligado à Escola de Comunicação e Artes da UEM, e noutros projectos musicais, mostrou-se segura na execução e na interpretação musical. 

Os New Kids vão agora poder ganhar asas e voar para outros locais. A equipa de produção está a estudar possibilidades de programar mais apresentações para que mais pessoas possam desfrutar da experiência musical.

Artigo por

edson.mandlate

Novembro 2, 2023

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