A Conferência MFF-Festival encerrou com a discussão do tema “Corpo Humano: Ser na Era digital”, onde a jornalista cultural e activista Benilde Matsinhe conversou com os artistas multidisciplinares Yuck Miranda, Maria Askew, Cebolenkosi Zuma e a advogada Anyieth D’Awol. O encontro levou a uma abordagem quanto à saúde e a intersecção entre os corpos, na era digital.
Em meio a várias doenças, além das físicas, emocionais e espirituais, o actor Yuck Miranda, desafia a uma reflexão sobre a ancestralidade, a tradição e como os estilos de vida dos antepassados podem trazer respostas para o contexto contemporâneo.
Por exemplo, aponta Miranda, a defumação espiritual, um ritual em que se espalha certos tipos de ervas, traz benefícios ao corpo. É o cuidar da dimensão espiritual que vai trazer respostas a outras enfermidades do físico. O trabalho da performance pressupõe, e muito, o uso do corpo.
“Tenho de tentar perceber que emoções estão no meu corpo nesse momento e que sensações eu já vinha tendo e fui ignorando até que se cristalizou.” A excessiva utilização da tecnologia, em detrimento do conhecimento amadurecido com o tempo e experiências de vida, a par da alimentação, são outras questões que colocam o “Ser” num estado de exaustão e de falha no seu funcionamento.
Anyieth D’Awol, advogada para os direitos humanos, diz que a cura é fundamental para a mudança do mundo, a cura de traumas e até de incertezas. Não nega que estar presente no digital, liga-nos ao mundo, mesmo em cenários de turbulências globais, mas também afirma que “as pessoas têm traumas do mundo tecnológico”.
D’Awol afirma mesmo que “a cura faz parte do nosso DNA, e o que me inspira nesse processo é que não importa quanto tempo isso leve”, o poder da cura existe em cada um dos seres, desde que se aprendam as ferramentas para lembrar ao corpo que somos capazes de curar.
Quem mencionou a empatia, para este debate em volta da Era Digital, foi Maria Askew, criadora de teatro e educadora, para quem abraçar o outro através de acções, é o factor que pode mudar as conversas que acontecem actualmente, num tom inflamado e de intolerância.
Para encerrar as intervenções dos oradores, Cebolenkosi Zuma, artista, apresentou o projecto “Umuntu, Nhumuntu, Nganantu”, que se pode interpretar como uma pessoa é devido a outras pessoas. Trata-se de uma pesquisa sobre como ajudar os outros, de forma particular, aos homens negros. Partilhou vídeos de danças e cancões entre os Zulus, e ainda deixou ficar sua indignação ao nível de violência baseada no gênero, bem como os níveis estatísticos de suicídio de homens, na África do Sul.
Por Felizarda Nhare