A Bienal de Maputo Fast Forward (MFF), que se realizará de finais de outubro a princípios de novembro de 2024 nos espaços culturais de referência na capital moçambicana. Um dos principais convidados para a conferência internacional é o intelectual camaronês, Achille Mbembe.
Mbembe é professor e pesquisador de história e política na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, autor de obras tidas como referência em história africana, estudos pós-coloniais, humanidades e ciências sociais, tais como “Sair da grande noite: ensaio sobre África descolonizada” (2010), “Necropolítica” (2011), “Crítica da razão negra” (2014) e “Brutalismo” (2020).
Com um tema a ser revelado em breve, a bienal MFF, busca formas de “ouvir o planeta” numa altura em que a ficção parece mais próxima da realidade e que o futuro distópico parece mais próximo da verdade, mais do que se pode imaginar. As teorias de conspiração e as diferentes especulações que se formam no espaço público alternativo parecem ganhar mais força e acção perante os canais formais e tradicionais.
As inovações tecnológicas e a natureza das coisas, incluindo os modelos de desenvolvimento e democracias globalizadas parecem colocar pressão sobre o continente africano, que, como se pode notar, tem a sua própria velocidade, e tem se mostrado contrária aos ditames ocidentais.
“Os 1,4 mil milhões de habitantes de África (e a aumentar) dependem dos recursos naturais do continente, incluindo a água doce e as florestas abundantes, e também do emprego através da conservação e do turismo. No entanto, continuamos a enfrentar um futuro incerto e que se aproxima rapidamente. O continente alberga algumas das maiores e mais puras paisagens naturais e áreas de vida selvagem do mundo, cada vez mais perdidas para a agricultura, a desflorestação, a pecuária, a exploração mineira, a exploração madeireira e outras formas de desenvolvimento capitalista. As pressões antropogénicas só tendem a intensificar-se, uma vez que, segundo as estimativas, a nossa população deverá atingir os 4 mil milhões de habitantes em 2100, crescendo a um ritmo três vezes superior à média mundial. Enquanto as soluções para as tribulações sociais e ambientais do continente são geradas noutros lugares (seguindo o capital e o poder político), os responsáveis pela definição das agendas de preservação social, ambiental e cultural geralmente não têm uma compreensão genuína do contexto local, o que nos chama a atenção para o papel de África na definição do futuro do continente. Nestas condições de indefinição, deparamo-nos com um desafio e uma oportunidade.”, indica a nota da curadoria do MFF 2024, cuja conferência internacional é liderada pela socióloga e antropóloga Tassiana Tomé.
Por Eduardo Quive