Quando foi concebida foi baptizada como Lourenço Marques. A 3 de Fevereiro de 1976 renasceu como Maputo, assim como se erguia a Nação recém-independente. Renasceu com muita força, com vontade de crescer e fazer tudo diferente, tal como todos almejam que uma criança cresça: saudável, alegre e que venha a ser motivo de orgulho.
Conhecida como a terra dos Marongas e Machanganas, carregada de esperança na reconstrução de algo novo, Maputo começou a escrever a sua própria história, apesar de alguns acreditarem que ela já era favorecida por ter sido a escolhida para receber o título de capital do país. Apesar de estar na boca de todos, talvez poucos sabem o que ou quem realmente ela é.
A maioria dos seus residentes devia ser falante de línguas locais, ronga e xichangana. Mas esta cidade recusa-se a ser de uns, sem os outros. Muitos são os acolhidos e passam a pertencer: Macuas, Ma-Senas, Makondes, Indianos, Árabes, Europeus, entre outros, que até entendem o “Bom dia” da língua local, ou não. Aliás, existem também vários residentes locais que sequer sabem responder a uma saudação nas línguas maternas; é que muitos foram educados para não aprenderem esta língua carregada de raízes tradicionais, mas, que hoje é marginalizada. Mas, no lugar desta, é exigida a excelência na fala e escrita da língua herdada da colonização portuguesa.
Maputo, onde muitos prendem-se às raízes e não à medicina moderna, mas, porque querem ser socialmente aceites, tudo fazem escondidos para que não sejam julgados. É que, se a criança não toma as raízes fermentadas, ela pode crescer “maluca” ou pode adoecer tanto que pode vir a perder a vida, daí a importância de dar-lhe o remédio de lua. Aliás, aqui, até para que se consulte o médico, é preciso que o curandeiro recomende, isso depois de ter a certeza de que não há ali um espírito dos antepassados a interferir no bem-estar.
Onde o casamento tradicional, o lobolo, é mais valorizado que o civil, os tios devem mostrar os seus dons de negociação para que a família do noivo pague quase o mesmo que a família da noiva pode ter investido na sua criação. E, se essa fase for antecedida por uma gravidez, melhor é para a família da noiva, que deve cobrar a multa por esta falha. É que o lobolo é uma prática tradicional muito importante que não deve, de forma alguma, ser ignorada. Que se atreva a família do noivo não o fazer com a esposa ainda em vida, corre o risco de fazê-lo quando ela estiver morta.
Marrabenta e Phandza? já não têm muito palco, “ficou para trás”. Nos últimos tempos, tem-se tornado uma característica de quem não está actualizado ou de quem efectivamente não tem bom gosto musical. É que o jazz, Afro-jazz, Amapiano e os demais, são mais aplaudidos e aparentemente apresentam as melhores composições. Aliás, se for marrabenta, deve ser comercial, ajustável a um evento social, mas este evento nunca será da elite.
Onde quase a maioria dos migrantes das outras províncias veio atrás das melhores oportunidades de trabalho e de vida, por ser esta a famosa capital económica, mas o que poucos sabiam é que viver cá seria mais caro, porque o custo de vida é muito elevado e, com a concentração populacional, há falta de empregos. Até existem, mas para quem tem um link aqui ou ali, às vezes com ou sem diploma, a remuneração vai depender da sorte de cada um ou do poder do padrinho que tiver.
Onde? No extremo sul de Moçambique, entre o azul do Índico e o calor das ruas, Maputo ergue-se como uma península que une passado e presente. Capital e centro económico, é também o espelho das desigualdades, onde luxo e carência partilham o mesmo mapa e a mesma baía. Onde no Mafalala, Chamanculo e Maxaquene, ainda ecoam as histórias que ajudaram a construir a cidade. Enquanto isso, na Polana e Sommerschield, o asfalto brilha, as árvores são podadas e a cidade parece outra, mais limpa, mais cara e menos acessível para quem a fez crescer.
Hoyo-Hoyo (Seja Bem-vindo) a Maputo, onde estas e muitas outras coisas acontecem, mas que tu nunca deves questionar os porquês.
Escrito por: Elisa Chaúque