Nos primeiros anos após a independência, sob a liderança de Samora Machel, nasceu em Moçambique a esperança de desenvolver um verdadeiro projecto nacional de cinema — um cinema com vocação educativa e artística, capaz de chegar até às zonas rurais mais remotas. Kuxa Kanema, que significa O Nascimento do Cinema, era uma forma de levar os acontecimentos mais recentes para as povoações, produzido pelo Instituto Nacional do Cinema (INC).
A República Popular de Moçambique tornou-se a República de Moçambique e o INC, foi reduzido a salas e corredores abandonados, onde os funcionários esperavam pacientemente pela reforma. O edifício foi destruído por um incêndio em 1991, e os documentos visuais que testemunham os primeiros onze anos de independência — os anos da revolução socialista — estavam a apodrecer num anexo, prestes a ser esquecidos.
A partir desses filmes e de outros testemunhos vivos, a realizadora Margarida Cardoso, através do documentário “Kuxa Kanema – O Nascimento do Cinema” reconstrói as etapas desse projecto hoje extinto, recuperou o caminho do ideal de uma nação, que se desmoronou, dia após dia, juntamente com «um cinema para o povo» e com os sonhos daqueles que acreditavam que Moçambique poderia um dia tornar-se um país diferente.
Por meio de projecções e entrevistas, o documentário evidencia — com uma certa ironia da história — o poder didáctico do cinema. A sessão de exibição do filme será no dia 19 de Agosto, às 18 horas, no auditório do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) e contará com um momento de conversa com a realizadora.
De Eduardo Quive
