“Chapa 100”: depois do alcatrão

Há mapas que não se deixam domar pelo GPS. São linhas de poeira e vozes que recusam o silêncio. Para os encontrar, é preciso abandonar o centro da cidade, deixar para trás o asfalto, os prédios, os cafés com wi-fi. O caminho segue em direcção a Marracuene, ao bairro Abel Jafar, até onde o alcatrão cessa sem aviso. E é nesse ponto, onde a estrada se rende à poeira, que existe um espaço criativo apelidado “Chapa 100”.

O “Chapa 100” nasceu do gesto ousado de um grupo de jovens que não quis esperar pelas condições ideais, preferindo criá-las. Jorge Matine, Florinda Mundender, Hélder e João Nhamposse, Eduardo e Aly Matine: nomes pouco sonantes nos jornais, mas que levantaram paredes com as próprias mãos e ergueram sonhos com a força de quem acredita no futuro.

Com o tempo, a comunidade cresceu, acompanhando o espaço. Às quintas-feiras, a mediateca torna-se refúgio de estudantes que encontram nos livros um lugar de pesquisa, de estudo e de voo. Sextas e sábados vestem-se de movimento: manhãs de clubes de leitura, pintura e, ao cair da tarde, música, teatro e poesia dão corpo a um palco improvisado que se transforma, por instantes, na mais nobre das salas de espectáculos. O público é diverso: vizinhos, crianças curiosas, “mamanas” do bazar, jovens em busca de sentido.

Longe dos holofotes, sem cortinas que se abram em grande gesto, o que existe é um silêncio atento, ouvidos abertos e aplausos que nascem verdadeiros. 

A força do “Chapa 100” não cabe em estatísticas de um algoritmo, a sua conta do Instagram, com meros 279 seguidores, atesta-o. O espaço vive e pulsa pela comunidade local que o frequenta, num movimento orgânico de quem busca reconectar-se e viver a arte na sua forma mais pura.

 

Escrito por: Júlio Magalo

 

Artigo por

Elisa Chauque

Novembro 21, 2025

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